24 de novembro de 2021
Por Laura Rossetti (*)
O escritor e biógrafo de Carolina Maria de Jesus, Tom Farias, participou da programação do Sempre Um Papo em parceria com o Sesc Santo André nesta terça-feira, 23 de outubro, às 20h. Durante a conversa, que teve como temática “Uma revolução chamada Carolina”, foi abordada a trajetória de vida da escritora mineira, além do processo de escrita de sua biografia. O bate-papo, mediado pelo jornalista Afonso Borges, contou com tradução em Libras e pode ser acessado no YouTube, Instagram e Facebook do Sempre Um Papo.
Pesquisar e escrever sobre a vida de Carolina Maria de Jesus foi, para Tom Farias, um resultado da influência que a obra de estreia da autora, publicada em 1960, causou nele. “Há mais ou menos 15 anos eu escrevo sobre Carolina, a partir da leitura do livro “Quarto de Despejo”, que me impactou muito. Eu comecei a escrever, então, algumas críticas de jornais e resenhas de livros que tratavam sobre ela”, diz o autor.
Em 2014, no centenário de nascimento da autora, Tom Farias editou os livros “Quarto de Despejo”, com a Editora Ática, e “Diário de Bitita”, com a SESI-SP Editora. Já em 2017, o autor publicou “Carolina, uma biografia”. “Eu achei extremamente necessário contar a história desta mulher de uma maneira que eu pudesse humanizá-la de forma mais profunda, no sentido de buscar suas origens, de recontar seu passado em Sacramento (município onde ela nasceu) e entender o processo dela na Favela do Canindé”, ressalta.
Outro motivo que levou Tom Farias a se debruçar sobre a história de Carolina foi a falta de reconhecimento, ao longo das décadas, de sua obra. “Como uma mulher tão festejada e criticada nos anos 60 ficou tanto tempo no ostracismo? Essa indagação me levou a escrever o livro sobre ela, como uma forma de resgate dessa mulher. E acho que deu certo, porque, de 2014 para cá, a situação da Carolina mudou vertiginosamente”, afirma o autor, citando como exemplo a exposição “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros”, no Instituto Moreira Salles de São Paulo, que demonstra a maior visibilidade da escritora atualmente.
Durante a conversa, também foi falado sobre a trajetória de vida da escritora, que se identificou com a literatura desde jovem. “A Carolina sempre teve propensões literárias. Quando chegou em São Paulo, em 1937, ela já tinha gosto pela literatura e escrita. Sua primeira publicação foi em 1940, mas ela só foi ‘descoberta’ em 1958”, conta. Na ocasião, o jornalista Audálio Dantas, enquanto fazia pesquisas para uma matéria sobre o crescimento das favelas em São Paulo, conheceu Carolina e descobriu que ela tinha escrito vários romances, peças de teatro e poesias. Quando Audálio escreveu sobre isso na revista O Cruzeiro, ela alcançou notoriedade e se tornou uma das escritoras mais lidas daquele período no Brasil.
Segundo Tom Farias, um dos motivos que explicam o esquecimento em que a autora caiu nos anos seguintes à publicação de “Quarto de Despejo” foi o preconceito que as pessoas tinham com relação à ela. “A Carolina, de alguma maneira, era sempre vista como uma mulher negra, pobre, favelada e, além de tudo, analfabeta. Quando você olha por esse viés, você não consegue enxergá-la como uma autora, uma intelectual, uma mulher que pode ajudar a pensar o Brasil”, argumenta.
Apesar disso, a partir de 1962, Carolina se tornou reconhecida mundialmente, tendo se tornado autora best-seller em 11 países. “Ela teve mais de 40 mil livros vendidos na Tchecoslováquia, sendo 15 mil em apenas um mês. Isso aconteceu também nos Estados Unidos, na França, Alemanha, entre outros”, exemplifica.
* Estagiária sob a supervisão da jornalista Jozane Faleiro
Frases:
“Carolina é uma mulher de muitas faces (…), é uma intelectual que mexeu muito comigo” – Tom Farias