18 de novembro de 2024
“Um quarto só nosso” foi o tema que orientou a conversa entre as escritoras Aline Bei, Madalena Sá Fernandes e Maria Francisca Gama na tarde deste domingo, 17/11. As três estiveram juntas no Festival Utopia, na cidade de Braga, no norte de Portugal, para participar de uma mesa de bate-papo mediada pelo jornalista Afonso Borges, presidente e criador do Sempre Um Papo. A presença das mulheres na literatura contemporânea e a dedicação à escrita criativa foram alguns dos assuntos abordados durante o evento, que aconteceu no auditório do Espaço Vita.
O tema “Um quarto só nosso”, como destacou a escritora lisboeta Madalena Sá Fernandes, é uma referência ao livro de ensaio “Um quarto só seu”, da autora britânica Virginia Woolf, publicado em 1929. “O que a Virgínia Woolf defende na obra é que é complicado falar sobre mulheres sem falar sobre submissão, sobre esta necessidade de se ter um espaço próprio que nunca lhe foi dado”, disse Madalena. Ela, que tem uma coluna de crônicas no jornal português Público, é autora dos livros “Leme” e “Deriva”, editados pela Companhia das Letras.
Também a escritora paulistana Aline Bei destacou uma obra que versa sobre a condição das mulheres, especialmente das escritoras. Trata-se do livro “A obrigação de ser genial”, de Betina González, escritora argentina contemporânea. “Apenas ser genial é que justificaria o fato de uma mulher ser escritora e abandonar, digamos assim, as coisas que ela precisa fazer na sua rotina para se colocar num quarto por anos para escrever um trabalho. O trabalho tem que mudar o mundo, porque (…) se for mais um livro entre livros, isso não justifica a nossa liberdade de expressão”. Aline é autora de livros como “O peso do pássaro morto”, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, e “Pequena coreografia do adeus”.
Já Maria Francisca Gama, nascida em Leiria, Portugal, é autora das obras de ficção “A profeta” e “A cicatriz”, que já está em sua sétima edição. “Nos meus livros, o que tenho feito e o que quero fazer é escrever sobre os temas que me apoquentam e sobre as coisas que me parecem que, durante muitos anos, vimos, principalmente, por uma perspectiva masculina”. Entre estes temas, destaca-se a violência contra a mulher, intimidade, o prazer feminino, e a condição das mulheres na sociedade contemporânea. Apesar de abordar, em seus livros, histórias tristes e de violência, Maria também falou que acredita ser importante que as mulheres escrevam histórias de alegria, de vitória e, até mesmo, banais. “Se os homens contam histórias banais, histórias mais ou menos e que não interessam assim tanto, e elas são publicadas, também tem que haver espaço para as mulheres fazerem o mesmo”.
Parceria entre Sempre Um Papo e Festival Utopia
A mesa de bate-papo com Aline Bei, Madalena Sá Fernandes e Maria Francisca Gama foi fruto da parceria do Sempre Um Papo com o Festival Utopia, e contou com apoio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, por meio do Prêmio São Paulo de Literatura.
Esta é a segunda edição do Festival Utopia, que apresenta uma programação formada por conversas, espetáculos, oficinas, sessões com escolas, entrevistas, exposições e passeios literários. O festival ocorre ao longo de dez dias, entre 15 e 24/11, em diferentes espaços da cidade de Braga, como o Espaço Vita e o Theatro Circo. O evento é promovido pela The Book Company e Penguin Random House Grupo Editorial, e tem como principal parceiro a Câmara Municipal de Braga.
O Sempre Um Papo, criado em Belo Horizonte, em 1986, é um projeto cultural que realiza encontros entre importantes nomes da literatura e personalidades nacionais e internacionais com o público, ao vivo, em auditórios e teatros. Ao longo de sua trajetória, o projeto já aconteceu em 30 cidades e promoveu mais de 8 mil eventos, que reuniram um público superior a 2 milhões de pessoas.