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Sobre memórias e seus vestígios

15 de dezembro de 2021

Por Laura Rossetti (*)

Nesta terça-feira, 14 de dezembro, o Sempre Um Papo recebeu, em parceria com o Sesc Santo André, a escritora e jornalista Ana Maria Machado. Ela conversou com Afonso Borges sobre seu primeiro livro de contos, “Vestígios”, publicado este ano pela Editora Alfaguara. O bate-papo, que contou com tradução simultânea em Libras, foi transmitido pelas redes sociais do Sempre Um Papo.

Ana Maria Machado possui mais de 120 livros publicados no Brasil e exterior, incluindo romances, ensaios, novelas, e se destaca, principalmente, com seus livros infantis. “O que me levou a escrever para crianças não é, por exemplo, o compromisso com a educação nem com as novas gerações, com o destinatário, mas sim com a possibilidade de explorar uma linguagem brasileira, coloquial, falada, familiar (…) e, com esta linguagem aparentemente simples, buscar fazer uma literatura de alta qualidade”, afirma a autora.

Recentemente, Ana Maria decidiu se aventurar em outro gênero literário: o conto. “’Vestígios’, para mim, foi quase uma surpresa, porque eu nunca tinha pensado em publicar um livro de contos”, diz. A sugestão veio de sua editora e, a partir daí, Ana Maria percebeu que parte dos textos que ela já havia escrito possuía uma conexão lógica entre si. “Eu não queria fazer uma coletânea de contos absolutamente soltos e percebi que alguns deles eu podia unir de uma maneira muito consequente. Embora sejam histórias muito distintas, elas têm um ponto em comum que é (…) a ideia da memória que permanece e deixa algum rastro, uma raiz recôndita que brota lá na frente ou frutifica adiante”, explica.

A autora compara seu processo de escrita ao ato de pegar uma onda na praia, de surfar – com ou sem prancha. “Aquela energia vai te sacudindo e pode te machucar, te jogar no fundo, te deixar momentaneamente perdido, desnorteado. É uma força que te leva”, afirma. Depois desse primeiro momento, em que a autora deixa seus pensamentos fluírem livremente no papel, ela começa a fazer ajustes. “Eu paro de conviver com aquele texto, volto a ele depois dele ‘descansar’ e aí eu vou cortar, reler, trocar de lugar, substituir, tendo sempre cuidado com as repetições”.

Perguntada sobre a situação da leitura no Brasil, a autora pontua duas ações que podem ampliar e melhorar o contato das pessoas com os livros. Uma delas é a implementação de projetos e políticas de incentivo à leitura –seja de iniciativa pública ou privada -, que foram deixando de existir ao longo dos anos. A outra é investir na própria formação de professores, para que eles possam ser bons mediadores entre os alunos e os livros.

Recentemente, Ana Maria publicou, pela Editora Ática, a obra “Rastros e Riscos” em que ela narra suas memórias de leitores. “O livro rememora um pouco, nestes 50 anos que tenho de escrita, vários encontros meus com leitores em feiras de livros, escolas, projetos de leitura, em diferentes países do mundo. Eu tive muito prazer em escrevê-lo, porque, no começo do isolamento causado pela pandemia, o livro partiu da ideia de evocar pequenas alegrias secretas para que eu pudesse me alimentar delas”, conta.

Acesse a gravação completa da conversa no YouTube do Sempre Um Papo.

* Estagiária sob a supervisão da jornalista Jozane Faleiro

Frases:

“Eu tenho paixão pela escrita, por escrever, pela linguagem, seja em que registro for – para adultos ou para crianças, na ficção ou no ensaio.” – Ana Maria Machado

“A crônica tem essa leveza de levantar um pequeno momento, como se fosse uma pinça, e promover ali algum tipo de reflexão” – Afonso Borges

“Fui descobrindo que, ao longo da minha carreira, as alegrias vieram muito mais de encontros com leitores do que de grandes prêmios e consagrações” – Ana Maria Machado

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