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Ourinhos e contos

17 de junho de 2021

Por Marina Vidal (*)

O Sempre Um Papo segue com a programação de 2021, ano que comemora 35 anos de realização ininterrupta, realizando uma série de encontros com respeitados autores da atualidade. No dia 16 de junho, o convidado foi o escritor Edney Silvestre que falou sobre o livro “Amores Improváveis” (Globo Livros). A conversa foi mediada por Afonso Borges e contou com intérprete de Libras, sendo transmitida pelo Youtube, Facebook e Instagram do Sempre Um Papo. Esta foi mais uma edição do projeto que está acontecendo de forma virtual, devido à pandemia do Covid-19.

“Amores improváveis” é um livro no qual Edney Silvestre se aventura pelo romance histórico que ultrapassa fronteiras estéticas, estruturais, com estilo seco, sem muita descrição, com foco no sentimento e na situação que envolve os personagens do livro. “Trago essa composição de amores improváveis que tem citações, tem as famílias italianas, tem as famílias de origem africana, tem essa composição que é Ourinho, o ciclo do ouro, Valença, o ciclo do café, a mão de obra escravizada e os imigrantes”.

Provocado por Afonso Borges, o autor conta porque escolheu a cidade Ourinho como palco dos acontecimentos do livro. “Ourinho não existe, existem várias Ourinhos. A Ourinho é uma composição que inclui Catas Altas, com um tanto de Tiradentes, que é um paixão minha, e com um tanto de Valença que é a minha cidade”.

O nome desse local fictício é uma ironia. “Ourinho tem esse nome, ironicamente, porquê de ouro não há mais, o café também está acabando e está chegando a estrada de ferro. Isso tudo está como essência, mas enxugado. Muito mais forte são as histórias ligadas à família de Emiliana e a vida do Felício Teodoro”.

A opção pela escrita de um romance conciso foi em razão de o leitor fazer parte da obra. “Quando comecei esse romance histórico achava que iria compor classicamente, mas comecei a perceber que as moduladoras eram desnecessárias porque quem lê, compõe o livro junto”. Conversando com o escritor Rodrigo Lacerda, Edney descobriu porque Valença tem um extraordinário número de sobrenomes e de descendentes de italianos e explicou isso na obra.

Uma das primeiras histórias de amor improvável na vida de Edney Silvestre é a de seus avós, que está narrada ficcionalmente no livro. “Usei boa parte do que aconteceu com meus avós, com minha avó em particular, e transformei para a ficção. Ela achava um absurdo que os outros não a respeitassem como pessoa, ela queria um bom companheiro e encontrou o meu avô e se apaixonaram”.

O livro tem uma presença marcante de mulheres fortes como Dora Vivacqua, mais conhecida como Luz Del Fuego, dançarina e atriz pioneira do nudismo na América Latina. “A homenagem começou inconsciente. Eu quando leio, vou lendo e pesquisando junto. Se eu fosse um leitor de ‘Amores Improváveis’ eu iria pesquisar de onde veio esse nome, quem era Vivacqua. Ela é tão irreal porque, em 1946, nua ou seminua, apresentando-se nos palcos enrolada em uma serpente, uma mulher de sociedade mineira. Ela morava em uma ilha e foi assassinada por ser tão libertária. E espero ter feito a essas mulheres que me inspiraram uma homenagem digna”, afirmou o autor.

Os personagens de Edney tem personalidades típicas do Brasil, visto que ele atua muito tempo como repórter e conheceu todo o país. “Tenho uma grande vantagem porque conheço muito bem o Brasil, viajei por todo o país. Não sou um idealista míope, sei o quanto as pessoas resistem, o quanto continuam. Temos essa fé brasileira, é isso que nos toca e nos mantém para frente, mesmo nas piores condições. Fico muito orgulhoso de imaginar que compreendo e sei do que estou falando”.

Para encerrar, Edney Silvestre leu um trecho do livro. Assista a esse momento e acompanhe o encontro na íntegra pelas redes sociais do projeto, no Instagram e Facebook e no canal do Sempre um Papo no Youtube, com acesso pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=b5EPkfLD-r4

FRASES:

“Eu tenho o prazer em saber que essas criaturas (personagens) que saíram sei lá de onde, são abraçadas por outras pessoas. Isso é talvez ser um escritor profissional”. – Edney Silvestre

“O meu receio e insegurança quando eu estava completando ‘Se Eu Fechar Os Olhos Agora’ foi que me ocorreu de eu não ser merecedor”. – Edney Silvestre

“Eu nunca vou ser Saramago porque nunca ninguém vai ser Saramago”. – Edney Silvestre

“Nenhum de nós jamais vai ser um novo Graciliano Ramos”. – Edney Silvestre

“Eu vou escrever a partir do que eu tenho”. – Edney Silvestre

“Tivemos uma Lei Aurea que foi resultado de pressão”. – Edney Silvestre

“Tudo muda e continua precisando de transformação”. – Edney Silvestre

(*) – Estagiária sob supervisão de Jozane Faleiro

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