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O poder das palavras na ilha da imaginação

10 de março de 2021

Por Marina Vidal (*)

O Sempre Um Papo abriu a programação de 2021, ano que comemora 35 anos de realização ininterrupta, realizando uma série de encontros com respeitados autores da atualidade. Um dos convidados foi o angolano José Eduardo Agualusa para falar sobre o seu mais recente livro “Os Vivos e os Outros” (Tusquets). Esta foi mais uma edição do projeto que está acontecendo de forma virtual, devido à pandemia do Covid-19. A conversa foi mediada pelo jornalista Afonso Borges, no dia 9 de março de 2021, sendo transmitida pelo Youtube, Facebook e Instagram do Sempre Um Papo.

“Os Vivos e os Outros” é um livro de contos ficcionais que falam sobre um festival literário sediado na ilha de Moçambique, no qual foram reunidos diversos escritores africanos. “É algo que eu gostaria de fazer porque acho que a ilha tem potencial para isso. Logo no início do festival há uma grande tempestade no continente, as pessoas na ilha podem assistir a tempestade e as comunicações caem”, adiantou Agualusa sobre o enredo. No livro, durante vários dias, as pessoas presentes na ilha ficam incomunicáveis e não há possibilidade de entrar ou sair do local. Como não se sabe o que aconteceu do outro lado, começa a circular um rumor de que o mundo teria acabado. “Para mim é um romance, não sobre a ilha de Moçambique, a ilha está lá, mas é um romance sobre o poder da palavra”, disse o autor.

O título do livro não foi uma tarefa fácil. “Este livro teve vários títulos, eu sabia que queria falar do poder da palavra, mas também tinha essa ideia do fim do mundo. Um dos títulos era ‘O Mais Belo Fim do Mundo’”. Para Agualusa, “Os Vivos e os Outros” é um título mais literário e combina com o livro, pois resume muito bem sua temática. “Isso tem muito a ver com o que estamos vivendo, os personagens estão presos em uma espécie de limbo e não sabem exatamente se estão vivos, se estão mortos, como é que estão, como é que podem sair dali. E, finalmente, descobrem que a forma de sair é através da palavra, contando histórias, que é o que eles sabem fazer. Ou seja, reinventam o mundo através da palavra, das histórias”.

José Eduardo Agualusa conheceu Moçambique por volta dos anos 2000, em razão de seu outro livro “As Mulheres do Meu Pai”, que realiza um relato de uma viagem de Luanda até Moçambique. “Fiz essa viagem para poder escrever o livro e foi a primeira vez que eu fui a ilha e por ela”. Devido a pandemia, o escritor está morando em Moçambique e disse que “Os Vivos e os Outros” é o primeiro romance que se passa inteiramente no local. “É um ilha muito interessante porque tem uma história de confluência, se há uma coisa que a caracteriza é ser um lugar de encontros, de confluências, ao longo de séculos e séculos. O destino da ilha é ser um lugar de encontros, de cruzamentos culturais. É também um lugar de delimitação de fronteiras”.

Lucidez infantil

Provocado por Afonso Borges, Agualusa revelou que pensa em escrever um livro infantil. “Eu acho que as crianças nos devolvem a infância, nos devolvem, de uma certa maneira, a nossa própria infância e também nos ajudam a olhar o mundo”. Para ele, esse processo é ainda mais marcante nas crianças que estão em fase de alfabetização porque estão em processo de descoberta da linguagem. “Lembro quando o Manoel Barros dizia que roubava muito aos filhos. E eu também roubo, não somente histórias, a filosofia e a lucidez, porque as crianças têm uma enorme lucidez e todos os dias nos ensinam alguma coisa, mas o português também, a forma como eu o utilizo”.  

Agualusa contou que tem passado muito tempo com a sua filha, que se encontra em fase de alfabetização, e tem contado muitas histórias para ela, o que está servindo de inspiração para o autor português escrever histórias infantis. “Sempre conto histórias diferentes, o desafio agora é: ela indica o que quer na história e eu invento na hora. Me surpreendo porque algumas histórias não são ruins, eu devia tomar nota porque nesse processo, às vezes,  sai uma boa história. Diante disso, me sinto com vontade de escrever para crianças”.

Acompanhe a conversa na íntegra pelas redes sociais do projeto, no Instagram e Facebook e no canal do Sempre um Papo no Youtube, com acesso pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=aoW10nxioVA

(*) – Estagiária sob supervisão de Jozane Faleiro

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