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No Dia da Mulher, Carla Madeira falou sobre seus romances no Sempre Um Papo

9 de março de 2022

Por Laura Rossetti

Neste 8 de março, Dia da Mulher, o Sempre Um Papo recebeu como convidada a escritora e publicitária belo-horizontina Carla Madeira. Na conversa, a autora falou a respeito dos seus três romances, “Tudo é Rio” (2014), “A Natureza da Mordida“ (2018) e “Véspera” (2021), além de seu processo criativo e influências para as obras. O bate-papo, mediado pelo jornalista Afonso Borges, foi transmitido ao vivo pelo YouTube do projeto.

O crescente sucesso de “Tudo é Rio” – que marcou a estreia de Carla na literatura – e seu relançamento pela Editora Record no ano passado, alavancou a autora a uma posição de destaque na lista de escritores brasileiros mais vendidos no país. Em 2021, Carla foi a segunda escritora mais lida do Brasil, ficando atrás apenas do baiano Itamar Vieira Junior, autor do premiadíssimo “Torto Arado”.

A autora conta que, depois de começar a escrever a história de “Tudo é Rio”, interrompeu a escrita do livro na parte em que narra um dos acontecimentos centrais do livro – “uma cena extremamente violenta”, nas palavras da autora – e só a retomou 14 anos depois. “Eu não tinha, talvez, maturidade para desembolar a própria situação que eu tinha proposto”, justifica. Na obra, ela narra a história de um casal que tem a vida transformada por uma tragédia provocada pelo ciúme doentio do marido.

Apesar de ter ficado esse longo período sem trabalhar no romance, Carla afirma que não deixou de refletir sobre ele. “Às vezes eu pensava e anotava alguma ideia, às vezes eu ficava muito tempo presa à uma cena”, lembra. Uma vez que ela se sentiu pronta para retomar a narrativa, a história fluiu incomparavelmente. “João Cabral de Melo Neto fala que o escritor escreve por dois motivos: para transbordar ou para preencher. ‘Tudo é Rio’ foi um transbordamento. Foram oito meses de escrita intensa. Eu eliminei tudo o que tinha vindo antes e comecei o livro exatamente deste lugar que tinha me paralisado”, conta.

Os outros dois romances da autora também abordam situações difíceis e extremas, como a violência doméstica, a criminalidade, a miséria e a rejeição. “Meus três livros são atravessados pela questão da família como um lugar de potência, mas também como lugar de violência”, afirma. Em “A Natureza da Mordida”, o enredo se desenvolve a partir da amizade entre Olivia e Biá, as duas protagonistas da história, explorando um passado de mistérios e dores. Já a trama de “Véspera” gira em torno do abandono de um bebê por sua mãe e de uma família marcada por uma série de problemas e traumas.

Apesar das temáticas similares, Carla lançou mão de diferentes recursos estilísticos em seus três livros. A autora conta que depois de “Tudo é Rio”, ela sentiu vontade de tentar uma linguagem diferente, se arriscar na experimentação. “’A Natureza da Mordida’ tem uma narrativa diferente, o narrador não é onisciente. São duas vozes muito diferentes: a voz de uma psicanalista que faz anotações a partir desse lugar; e a voz de uma jornalista, que, ao narrar sua parte na história tem uma voz bem objetiva”, afirma.

Apesar do teor forte e impactante de sua escrita, marcada por descrições explícitas, sem eufemismos, Carla afirma que nunca teve receio da reação do público aos seus livros. “O que vai acontecer depois (da publicação) é com o leitor; não é mais comigo. (…) Eu tenho cuidado muito desse espaço criativo para não deixar nada do que está me acontecendo – nem os elogios nem as críticas – interferirem nisso. Outro dia eu ouvi um autor dizer isso: a gente precisa dar as costas para o mundo quando está escrevendo e não se preocupar muito com o que vai acontecer depois”, diz a autora.

Frases:

“A gente precisa dar as costas para o mundo quando está escrevendo e não se preocupar muito com o que vai acontecer depois” – Carla Madeira

“Esse lugar sem palavras, esse momento que você não consegue simbolizar através da linguagem, é um lugar de desamparo” – Carla Madeira

“Eu acho que eu não poderia escrever nenhum dos livros que escrevi sem a vivência da família (…), porque veio daí toda uma intensidade nas relações humanas e aprendizados”– Carla Madeira

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