25 de fevereiro de 2022
Por Laura Rossetti
O Sempre Um Papo recebeu nesta quinta-feira, 24 de fevereiro, o jornalista e escritor Jamil Chade para falar sobre o tema “Guerra e Paz”. O assunto foi escolhido em face da crise de segurança que o mundo vive por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia. No bate-papo, transmitido ao vivo pelas redes sociais do projeto, Jamil também falou sobre seus livros e contou sobre suas experiências como repórter no exterior.
Especializado na cobertura de assuntos internacionais, Chade afirma que as tensões que acontecem hoje entre a Rússia e potências do Ocidente é uma consequência da forma como a Guerra Fria terminou. “O colapso da União Soviética é uma história não concluída que gerou e gera, hoje, protetorados, sociedades que vivem no limbo, disputas de fronteira, de território, de influência – e sempre com uma vítima: a população local. (…) Quando um ataque desses (das tropas russas na Ucrânia) acontece, ele é, na verdade, mais um capítulo daquele ‘terremoto’ dos anos 90”, diz.
Jamil chama a atenção para uma característica marcante que envolve o confronto, que é sua forte presença e repercussão nas redes sociais. Isso porque, bilhões de pessoas compartilham vídeos, fotos, notícias e depoimentos com extrema rapidez no ambiente digital, que funciona como um lugar para expôr comentários e pontos de vista sobre os acontecimentos.
Diante disso, Chade defende que é preciso ter responsabilidade ao opinar nas redes sociais. Para ele, qualquer tentativa de explicar com simplicidade o confronto atual entre a Rússia e a Ucrânia é equivocada. “Não existe uma resposta óbvia (…) Eu acho que, sinceramente, quando a gente tenta, no Twitter ou outras redes sociais simplificar, a gente está fazendo um desserviço para a compreensão de todos os conflitos. Eles são extremamente complexos”, argumenta.
A experiência e o contato direto com refugiados na África, no Oriente Médio e na Europa levou Jamil a escrever o romance “O caminho de Abraão: Fé, amor e guerra em travessias separadas pelo tempo”, publicado em 2018 pela Editora Planeta. “O livro conta vários casos de pessoas que precisam sair da guerra e encontrar um porto seguro, e a dificuldade de conseguir isso diante das fronteiras e das ficções que a própria sociedade cria: Estados, nações, passaporte, identidade e, claro, autorização, ou seja, visto”, resume o autor.
Jamil Chade escreveu também livros não ficcionais como “Política, propina e futebol: Como o ‘padrão Fifa’ ameaça o esporte mais popular do planeta” (2015, Editora Objetiva) e, em coautoria com o jornalista Momchil Indjov, “Rousseff: a história de uma família búlgara marcada por um abandono, o comunismo e a presidência do Brasil” (Editora Virgiliae, 2011).
Em 2020, Jamil escreveu, em parceria com a escritora e advogada Ruth Manus, a obra “10 histórias para tentar entender um mundo caótico”, que foi finalista do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Ciências Sociais. O livro, que, nas palavras do autor, “não traz a resposta para quase nada”, se propõe justamente a discutir e questionar verdades absolutas, abordando temas variados como corrupção, meio ambiente, refugiados, saúde, violência e desigualdade.
Confira a gravação completa deste Sempre Um Papo, que contou com tradução simultânea em Libras, no canal do YouTube e Facebook do projeto.
Frases
“Não existe guerra vencida. Todos (…) saem derrotados. Essa é a história que a humanidade mostra em várias regiões do mundo, em vários continentes”. – Jamil Chade
“Guerras estão acontecendo em outros lugares do mundo enquanto a gente está falando, em outros lugares esquecidos. E é até injusto com essas outras guerras que elas não recebam a mesma atenção”. – Jamil Chade
“Eu tenho sempre muita desconfiança com quem acha que tudo é muito simples”. – Jamil Chade
“Desinformação e guerra andaram de mãos dadas por milênios”. – Jamil Chade