7 de abril de 2022
Por Laura Rossetti
O projeto Sempre Um Papo recebeu no dia 30 de março, quarta-feira, o escritor e jornalista Jamil Chade. Durante o evento, que ocorreu no auditório da Cemig, em Belo Horizonte, ele falou sobre literatura e jornalismo, e ainda comentou a guerra na Ucrânia, a partir de sua vasta experiência como correspondente internacional. A conversa, mediada pelo jornalista Afonso Borges, marcou o retorno das atividades presenciais do projeto, suspensas desde o início da pandemia, e está disponível no canal do YouTube do Sempre Um Papo.
Jamil Chade atua como correspondente internacional, tendo viajado para mais de 70 países, cobrindo os mais diversos assuntos, como crises de refugiados, copas do mundo e encontros entre chefes de Estado. O jornalista mora há 22 anos em Genebra, cidade suíça de cerca de 200 mil habitantes, onde trabalha em um escritório dentro da sede da Organização das Nações Unidas (ONU). “Apesar de ser muito pequena, Genebra é o centro do multilateralismo, o centro da diplomacia internacional: ela é a sede, por exemplo, da OMS (Organização Mundial da Saúde), Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), da OMC (Organização Mundial do Comércio), entre tantos outros”, explica Jamil.
Durante o bate-papo, Chade falou sobre alguns de seus livros, a começar por “O caminho de Abraão: Fé, amor e guerra em travessias separadas pelo tempo”, de 2018, sua única obra de ficção. “O livro conta a história basicamente de uma imigrante que percorre um caminho muito duro tentando fugir da Síria, no início da guerra civil de lá”. Apesar de ter uma narrativa ficcional, as dificuldades enfrentadas pela protagonista foram realmente vividas por uma série de refugiados e outras pessoas em vulnerabilidade que Jamil conheceu em suas viagens internacionais. “Todas as histórias que eu conto no livro são realidades que eu ouvi e vi em primeira mão”, afirma.
Em seguida, o jornalista falou sobre “10 histórias para tentar entender um mundo caótico”, que ele escreveu em 2020, em coautoria com a advogada Ruth Manus. No ano seguinte, a obra, que surgiu a partir de uma troca de mensagens entre os autores acerca dos desafios mundiais frente à pandemia de Covid-19, chegou a ser finalista do Prêmio Jabuti, na categoria Ciências Sociais. “No livro, a gente traz perguntas das mais variadas, sobre desigualdade, sobre o amor, sobre dinheiro, desemprego, entre outros”, diz Jamil.
Já na obra “Política, propina e futebol: Como o ‘padrão Fifa’ ameaça o esporte mais popular do planeta”, de 2015, o jornalista expõe a corrupção, a fraude e outras ilegalidades presentes dentro da maior organização esportiva do mundo. “Quando comecei a cobrir as atividades da Fifa (Federação Internacional de Futebol), eu fui, pouco a pouco, entendendo que aquele sentimento legítimo de torcedor é abusado, explorado e sequestrado por uma oligarquia que controla o futebol e fica bilionária com a nossa emoção”, afirma.
Por fim, Chade falou sobre seu mais recente livro, lançado este ano, “Luto: reflexões sobre a reinvenção do futuro”. O jornalista explica que a palavra “luto”, no título, vem da conjugação do verbo “lutar”, e não diz respeito ao substantivo que indica a tristeza provocada pela morte. “Eu acho que lutar, sinceramente, é a maior homenagem que a gente pode fazer para aqueles que não resistiram. Esse não é um livro sobre a pandemia; é um livro sobre nós e os desafios que teremos a partir de agora em reconstruir, repensar e reinventar o futuro”, afirma ele, completando que a obra busca refletir as transformações que devem ocorrer no mundo a partir do “reconhecimento de que o sistema fracassou”.
O jornalista comentou ainda a guerra na Ucrânia, a partir de perguntas feitas pela plateia. “Eu acho que não haverá um vencedor dessa guerra; haverá um acordo”, aposta. Perguntado sobre a possibilidade de que os responsáveis por crimes de guerra sejam julgados, Chade afirma que para isso seria preciso transpor o empecilho da falta de credibilidade do sistema internacional, como a própria ONU. “O grande desafio, ao meu ver, é o fato de que as potências ocidentais não têm credibilidade nenhuma, hoje, para exigir nada”, diz.
Frases:
“A nossa função como jornalista é justamente destrinchar e informar, dentro de um pacote democrático, o que é feito em nosso nome” – Jamil Chade
“Se as estruturas de poder e as prioridades forem as mesmas do período pré-pandemia, a gente vai estar recriando as bases para um próximo desastre” – Jamil Chade
“Uma das bases da reinvenção é admitir o fracasso do sistema” – Jamil Chade