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Flávia Péret fala sobre seus livros, cidades e territórios que inspiram sua pesquisa literária

24 de março de 2022

Por Laura Rossetti

A escritora, professora e pesquisadora mineira Flávia Péret foi a convidada do Sempre Um Papo na última terça-feira, 22 de março. Ela falou sobre seus livros ”Os Patos” (2018), “Mulher-Bomba” (2019) e “Instruções para montar mapas, cidades e quebra-cabeças” (2021). O bate-papo, que fez parte da série de conversas com autores nascidos em cidades do interior de Minas Gerais, foi mediado pela jornalista Jozane Faleiro e transmitido ao vivo pelas redes sociais do projeto.

Flávia conta que nasceu em Mariana (por acidente de percurso) e morou em Ouro Preto desde o nascimento até os 17 anos, quando se mudou para Belo Horizonte para fazer vestibular. Perguntada sobre sua relação com a cidade que foi palco de importantes acontecimentos históricos, como a Inconfidência Mineira, a autora falou sobre as desigualdades e contradições vivenciadas, cotidianamente, pelos moradores de lá. “É uma cidade belíssima, mas não há como não lembrar do passado colonial muito violento que a gente viveu (…) Essas violências têm ressonância até hoje. É uma cidade com um ‘apartheid’ social e racial muito profundo”, afirma.

A autora acredita ter partido dos anos em que morou em Ouro Preto sua propensão a abordar questões sociais e políticas na escrita. “Eu tenho uma sensação que esse meu interesse pela política e a forma como isso resvala nos meus textos surge justamente do fato de viver em uma cidade onde as experiências são muito gritantes e impressionam”, diz. Estas vivências contraditórias também estão presentes na cidade em âmbito religioso, segundo a autora. “Por mais que eu tente fugir desse binarismo entre o profano e o sagrado, existe uma tensão muito forte disso em Ouro Preto”, avalia.

A cidade de Ouro Preto é um dos cenários presentes na obra “Os Patos”. Nela, a autora narra os pensamentos e emoções de uma personagem empenhada em escrever a história do seu corpo. “O livro é um diário inventado. É uma novela que traz um embate de uma personagem mulher – muito autobiográfica, mas também muito ficcionalizada – com o seu médico, que é um psiquiatra”, conta.

Já o enredo de “Instruções para montar mapas, cidades e quebra-cabeças” tem como pano de fundo a cidade de Buenos Aires, onde Flávia morou em 2005. Ela conta que começou a redigir o livro quase dez anos depois, em 2014, embora sempre tenha sentido vontade de escrever sobre as lembranças, afetos e situações que vivenciou na capital argentina.

O livro, no entanto, não é autobiográfico, mas sim um romance fragmentado. “São vários textos – alguns muito curtos e outros maiores – onde eu vou mesclando muitas experiências e gêneros diferentes. Têm textos em forma de diário, contos e anotações que compõem uma espécie de mapa – nunca total, porque isso não existe -, mas subjetivo da minha experiência nessa cidade tão emblemática que é Buenos Aires”, afirma. “A ideia era fazer do livro uma espécie de ‘anti-guia turístico’”, brinca a autora, já que um de seus objetivos ao escrever a obra foi “mostrar o que está fora do cartão postal: a cidade viva, para além da cidade cenográfica”.

Flávia terminou o bate-papo falando sobre “Mulher-Bomba”, um livro curto que reúne poesias sobre experiências pessoais. “Nos poemas eu falo sobre meu cotidiano, minhas relações, falo um pouco sobre minha separação e a maternidade. É um livro com uma certa unidade, porque tem começo, meio e fim. Ele foi uma forma de ressignificar minhas experiências”, diz.

Acesse a gravação completa deste Sempre Um Papo, que contou com tradução simultânea em Libras, no canal do YouTube e Facebook do projeto.

Frases

“São várias as disciplinas que existem para a gente entender melhor as cidades: a arquitetura, a política, a economia. A literatura também é uma linguagem que nos ajuda a desvendar as complexidades das cidades” – Flávia Péret

“É muito incrível o trabalho da escrita, que é o trabalho da memória, do inconsciente” – Flávia Péret

“Eu fico sempre querendo ir na brecha da história” – Flávia Péret

“Eu não sei se porque escrevo eu vejo a realidade de um jeito diferente, ou se é o contrário. Mas tem uma via de mão dupla. Eu acho que escrever me faz olhar para a realidade com mais curiosidade”. – Flávia Péret

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