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Edimilson de Almeida Pereira fala sobre literatura e identidade no Sempre Um Papo

8 de fevereiro de 2022

Por Laura Rossetti

Para dar início à programação de 2022, o Sempre Um Papo recebeu nesta segunda, 7 de fevereiro, o escritor mineiro Edimilson de Almeida Pereira. Ele conversou com o jornalista Afonso Borges sobre a temática “Literatura e Outras Histórias”. O bate-papo, transmitido ao vivo, às 19h, pelas redes sociais do projeto, abordou o processo criativo do autor, as diferenças entre gerações de escritores, além de temas atuais como a polarização da sociedade e o ódio propagado nas redes sociais.

No ano passado, Edimilson recebeu grandes reconhecimentos com dois de seus romances. “Front” (Editora Nós) rendeu ao autor o Prêmio São Paulo de Literatura na categoria de Melhor Romance do Ano de 2020. Já “O Ausente” (Editora Relicário), também publicado em 2020, ficou em segundo lugar no Prêmio Oceanos, um dos mais importantes entre os países de língua portuguesa.

Mas foi no campo da poesia em que Edimilson começou sua incursão na literatura. “A minha vivência com a poesia (…) começa em Juiz de Fora no início dos anos 80, com um grupo muito especial de amigos”, relembra o autor, fazendo referência ao chamado ‘Abre Alas’. Esse grupo de poesia, formado não apenas por escritores, como também por fotógrafos, artistas plásticos, cineastas e atores, tinha, nas palavras de Edimilson, “como traço mais interessante a preocupação de fazer com que as pessoas se encontrassem”.

Grande parte da obra do mineiro é composta por poesia, incluindo seu livro de estreia, “Dormundo”, de 1985. Recentemente, no entanto, o autor tem se dedicado à publicação de romances. Em 2020, além dos já citados “Front” e “O Ausente”, Edimilson publicou também “Um corpo à deriva” (Edições Macondo), que, juntos, formam uma trilogia não linear. “São livros (…) bem antigos, eu trabalho com eles há um bom tempo. A publicação foi no final de 2020, mas o livro no qual trabalhei por menos tempo, eu fiquei quase quatro anos no processo de escrita”, conta.

Além de falar sobre seu trabalho criativo, Edimilson também abordou as diferenças entre a geração de escritores a que ele fez parte e a atual. Para ele, sua geração tinha o costume de compartilhar os escritos e interagir entre si, estar aberta a críticas. “Eu não digo que era uma geração perfeita e que agora isso não existe. (..) Em termos de técnica, hoje há mais condições, mas a técnica sozinha não resolve os nossos processos de interação”, comenta.

Edimilson foi perguntado ainda sobre sua visão a respeito de assuntos amplamente discutidos hoje em dia, como as pautas identitárias, o ódio disseminado nas redes sociais e a polarização da sociedade. “Esses grandes enfrentamentos que a gente tem hoje sobre as questões identitárias estão semeados no Brasil desde que esta ideia de um país descoberto e que foi inserido em um processo de colonização se estabeleceu. (…) Não há nada hoje, no meu ponto de vista, em termos de enfrentamento, de combate e ódio na sociedade brasileira que seja uma novidade”, opina o autor.

O mineiro considera ainda que hoje estes enfrentamentos estão mais visíveis porque são discutidos. “Eu vejo a colocação desses dilemas no jogo social, a exposição explícita deles. (…) Quando você pega comunidades indígenas e indígena-descendentes aqui no Brasil, comunidades negras e afrodescendentes, mulheres, populações trans. Essas populações, essas pessoas que têm nome, história, vida, são desde sempre, no Brasil, os indivíduos que vivem o processo do genocídio, são as vítimas de um país genocida”, afirma Edimilson.

Acesse a gravação completa deste Sempre Um Papo, que contou com tradução simultânea em Libras, no canal do YouTube e Instagram do projeto.

Frases

“Eu gosto muito dessa ideia de voltar ao passado, mas para encontrar nele alguma coisa que diga respeito ao que a gente faz hoje”. – Edimilson de Almeida Pereira

“A separação entre a prosa e a poesia é cada vez menor. (…) Uma não implica o abandono da outra de modo algum”. – Edimilson de Almeida Pereira

“Cada escritor e escritora, cada artista de modo geral, tenta escavar o máximo em si e o máximo no mundo para poder encontrar sua linguagem”. – Edimilson de Almeida Pereira

“O modo como você olha o mundo pode reduzir a extensão do mundo ou ampliar” – Edimilson de Almeida Pereira

“É possível você criar relações de convivência sadia. A gente está precisando disso: discutir ideias, criar contrapontos, desvendar nós da vida histórica e social do país, do tempo que é o nosso. Isso só se faz com o exercício de uma certa solidariedade”. – Edimilson de Almeida Pereira

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