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Candido Portinari: Do cafezal à ONU

18 de março de 2022

Por Laura Rossetti

O Sempre Um Papo recebeu nesta quinta-feira, 17 de março, o escritor e professor João Candido Portinari, fundador e diretor do Projeto Portinari. Durante o bate-papo, ele abordou a trajetória do projeto e os trabalhos realizados, a história dos painéis “Guerra” e “Paz”, as exposições “Portinari para Todos” e “Portinari Ilustrador”, entre outros assuntos. O programa foi transmitido ao vivo pelas redes sociais do projeto.

João Candido conta que o Projeto Portinari, que ele dirige há 43 anos, foi criado em 1979, período em que a ditadura militar se encaminhava ao fim, ao passo que crescia a vontade do povo de resgatar a identidade histórica e cultural do país. Desde então, o projeto fez o levantamento de mais de 5 mil obras de Candido Portinari, além de 30 mil documentos, como cartas, fotografias, filmes e recortes da época em que viveu o artista.

Com isso, o trabalho realizado não apenas contribui para a preservação da arte de Portinari, como também possibilita a compreensão da sociedade brasileira da primeira metade do século XX. Como lembra João Candido, seu pai se relacionou com destacados artistas, intelectuais e políticos daquele período, como Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, Luís Carlos Prestes, entre tantos outros. “Ele (Candido Portinari) foi um polo de captação e radiação das principais preocupações da sua geração: preocupações estéticas, artísticas, culturais, sociais e políticas”, afirma o escritor.

Dentre as obras mais conhecidas do artista natural de Brodowski, interior de São Paulo, estão os painéis “Guerra” e “Paz” – “a obra máxima de Portinari”, nas palavras de João Candido. Eles foram encomendados pelo governo brasileiro ao pintor, na década de 1950, para presentear a recém-fundada Organização das Nações Unidas (ONU). Hoje, os painéis, que possuem 14 metros de altura e 10 de largura, encontram-se expostos na sede da organização, em Nova York.

A história por trás dos painéis evidencia o valor que a arte para Portinari. Isso porque, o pintor dedicou cinco anos à criação deles e, durante o processo de estudo das técnicas, figuras e formas que iriam compor os painéis, ele sofreu uma hemorragia por causa do envenenamento pelo chumbo que havia nas tintas da época. Contrariando as orientações médicas, Portinari decidiu continuar as obras, que foram entregues em 1956, seis anos antes de sua morte em decorrência do agravamento da intoxicação. “Eu sei que ele tinha uma consciência muito clara de que aquilo podia ser fatal, mas era a maior oportunidade dele de passar a grande mensagem ética, humanista, de paz, de não violência e de justiça social que era a vida dele”, diz João Candido.

Por iniciativa do Projeto Portinari, os painéis foram reformados em 2010 e levados para serem expostos em diversos países, incluindo o Brasil. Agora, João Candido conta, em primeira mão, uma boa novidade: “Nós tivemos a felicidade de ter novamente a guarda dos painéis dada pela ONU para uma segunda fase do projeto “Guerra e Paz”. Estamos trabalhando para levá-los à Itália. Pela primeira vez, eles vão ser levados à terra dos ancestrais de Portinari”, revela.

Também através do trabalho do Projeto Portinari, estão em cartaz as exposições “Portinari para Todos”, no MIS Experience, em São Paulo, e “Portinari Ilustrador”, na Embaixada da Itália, em Brasília. “Essa exposição de São Paulo é a concretização e um sonho que eu venho acalentando há não sei quanto tempo. É uma exposição absolutamente inédita”, afirma João Candido sobre a mostra, que exibe mais de 150 obras através de tecnologias que permitem uma experiência interativa e sensorial com recursos audiovisuais e sonoros.

Acesse a gravação completa deste Sempre Um Papo, que contou com tradução simultânea em Libras, no canal do YouTube e Facebook do projeto.

Frases

“Tem dois tipos de pessoas no mundo: tem as pessoas para as quais você não precisa dizer nada; e tem as outras, para as quais não adianta dizer nada”. – João Candido Portinari

“A missão principal do Projeto Portinari são as crianças e os jovens”. – João Candido Portinari

“A obra de Portinari não é como a de Kandinsky, por exemplo, que te propõe linhas, formas, volumes e cores. É uma obra profundamente comprometida com o social, com o humano, com valores de não violência, cidadania, justiça social, respeito à vida, espírito comunitário e fraternidade”. – João Candido Portinari

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