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“Autobiografia”: um romance sobre José Saramago

10 de fevereiro de 2022

Por Laura Rossetti

Nesta quarta, dia 9 de fevereiro, o Sempre Um Papo recebeu o escritor português José Luís Peixoto para falar sobre seu livro “Autobiografia”, que acaba de ser publicado em nova edição pela Companhia das Letras. A conversa ocorreu de forma presencial, com exibição nas redes sociais do projeto, sem a presença de público, em atenção aos protocolos contra a Covid-19.  O bate-papo aconteceu na Livraria Quixote, em Belo Horizonte, depois do autor participar de uma noite de autógrafos na parte externa da livraria.

Sob a mediação do jornalista Afonso Borges, o autor português, nascido na pequena cidade de Galveias abordou, entre outros assuntos, seu processo de escrita enquanto viaja, sua experiência com a obra de José Saramago e os problemas que o mundo enfrenta atualmente, como a relativização da verdade. O autor ainda leu trechos e comentou sobre seus livros – que somam mais de 20 títulos e incluem romance, poesia, novela, infantil e teatro. 

Apesar de levar o título “Autobiografia”, o livro escrito por José Luís Peixoto e publicado pela primeira vez em 2019, é, na realidade, um romance que tem como personagem principal o grande e incomparável escritor português José Saramago. Segundo Peixoto, o livro faz um jogo literário ao unir dados e episódios reais da vida de Saramago a um enredo ficcional. Isso porque, na trama, um jovem autor é convidado a escrever a biografia deste mestre da literatura portuguesa.

“Sem o José Saramago eu não estaria aqui. Acredito que tivesse continuado a escrever, mas não sei de que forma teria sido a minha vida”, afirma Peixoto, que chegou a se encontrar com Saramago em duas ocasiões. A primeira vez em 1997, em uma biblioteca em Coimbra e, depois, em 2001, quando, aos 27 anos, Peixoto tornou-se o mais jovem vencedor – até hoje – do Prêmio Literário José Saramago, com seu romance de estreia, “Nenhum olhar”.

O primeiro livro de José Luís Peixoto, “Morreste-me”, foi publicado pouco antes disso, em 2000. A obra conta, em prosa poética, o luto do autor diante da morte de seu pai. Peixoto diz ficar surpreso com o modo como este livro tão incipiente e tão pequeno (de pouco mais de 50 páginas) ainda reverbera em sua trajetória de forma extraordinária. Por exemplo, em 2020, o livro foi lido em um programa do horário nobre da TV chinesa por um jovem que encontrou conforto nas palavras do autor, depois de ter perdido o pai por um câncer de pulmão.

O programa foi assistido por cerca de 250 milhões de chineses e rendeu a Peixoto a oportunidade de publicar “Morreste-me” em mandarim. “Eu escrevi este livro aos 21 anos. Na altura, eu nem sabia que estava a escrever um livro. Quatro anos depois, eu decidi publicá-lo e publiquei em uma edição de autor. Ou seja, eu não tinha nenhuma editora para ele. Pensar que depois ele chega a lugares como esses é tão extraordinário que nem há palavras”, afirma o autor.

Perguntado se consegue escrever quando está viajando, José Luís Peixoto afirmou que sim. “Neste momento, escrever em movimento é bastante confortável para mim, porque até me ajuda um pouco a manter uma linha, uma estabilidade dentro desta instabilidade que é a viagem. (…) Na viagem existem momentos de grande solidão, e então esta solidão é bastante útil para escrever”, conta.

O Sempre Um Papo é viabilizado através do patrocínio do Instituto Cultural Vale, Cemig e Usiminas, com o apoio da Rede Mater Dei de Saúde, com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo. Acesse a gravação completa deste Sempre Um Papo, que contou com tradução simultânea em Libras, no canal do YouTube, Facebook e Instagram do projeto.

Frases

“Eu acho que, implicitamente, neste ato de escrever, está uma série de crenças fundamentais que tem a ver com o meu entendimento do mundo e da vida e que tem a ver com a existência dos outros”. – José Luís Peixoto

“Temos que ter cuidado para não permitirmos que o nosso olhar aceite todas as extravagâncias”. – José Luís Peixoto

“Temos que manter algumas certezas dentro desta constante relativização de tudo”. – José Luís Peixoto

“Eu na verdade acredito muito na leitura. Acredito que a leitura nos permite trabalhar a cabeça para além do estímulo”. – José Luís Peixoto

“As respostas, sejam elas quais forem, têm que passar por não desistirmos dos grandes valores, da solidariedade, do olhar para o outro”. – José Luís Peixoto

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