16 de abril de 2021
Por Marina Vidal (*)
O Sempre Um Papo segue com a programação de 2021, ano que comemora 35 anos de realização ininterrupta, realizando uma série de encontros com respeitados autores da atualidade. No dia 15 de abril, o convidado foi o autor, engenheiro eletrônico e mestre em informática Silvio Meira, que conversou com Afonso Borges sobre o tema “Não Estamos em 2021 e sim em 2025+”. O papo contou com intérprete de Libras, sendo transmitido pelo Youtube, Facebook e Instagram do Sempre Um Papo. Esta foi mais uma edição do projeto que está acontecendo de forma virtual, devido à pandemia do Covid-19.
O encontro foi inspirado em um artigo elaborado por Silvio Meira “21 anotações sobre 2021”, publicado em dezembro de 2020 em seu site. “Durante o ano passado, todos, que ficaram em casa, que tiveram que trabalhar em casa, estudar em casa e consultar o psicólogo em casa, pedir a comida do restaurante, passamos por um processo de aprendizado”, constatou Silvio. Para ele, talvez esse processo de aprendizado com as tecnologias de informação e comunicação, tenha sido o maior processo de aprendizado em profundidade. “Porque não tinha ninguém para ir na nossa casa durante muito tempo para nos ensinar a usar alguma coisa. A gente teve que aprender de qualquer jeito”.
Esse aprendizado Silvio Meira nomeou como método ABC. “ABC significa Aprendizado Baseado no Caos, onde o caos não é o método, ele é o contexto”. Apesar de serem muito utilizadas na pandemia, tecnologias como Google Meet, Zoom, transmissões ao vivo pelo Youtube, já existiam antes da crise sanitária. “As empresas se resguardaram para lançar suas novas tecnologias ou depois que a pandemia passasse ou quando elas entendessem que contexto era aquele e adaptassem suas tecnologias. Mas o contexto nos forçou a fazer coisas que nós não teríamos que aprender se o espaço físico não tivesse sido suprimido”, afirmou.
O foco do artigo se refere a essas mudanças na pandemia e as ações dos indivíduos em resposta. “Foi criado um novo espaço com contexto às nossas ações e das empresas. É o espaço que eu chamo de ‘fígital’, que é uma combinação do espaço físico, que continua existindo, não só lá fora, mas nós somos seres físicos, que é estendido pelo espaço digital. E esses dois espaços são orquestrados, em mais de uma forma, pelo terceiro que é o espaço social, ele também tem uma componente digital e uma física, mas que existe como uma primária desse novo espaço”, relatou o autor. Silvio acredita que a sociedade não está realizando uma transição do meio físico para o digital, processo que não estava acontecendo antes da
pandemia. “Não é uma saída do físico para o digital, é uma saída do físico para o ‘fígital’. E isso, nesse contexto, teve impactos dramáticos na vida das pessoas”.
A educação é uma das áreas que se afeta muito com tais mudanças tecnológicas. “Primeiro, os aprendizes aprendem mais rápido do que os professores, ou do que os facilitadores de aprendizado, porque ele tem mais tempo, têm menos costumes e hábitos já estabelecidos e não têm medo de errar”, disse Meira. O engenheiro explicou que para essa nova geração não há erro, pois tenta-se até o sucesso e, com isso, aprende-se com as tentativas.
Para Silvio, o problema mais fundamental no sistema educacional se refere a continuidade da adoção da metodologia de educação da Idade Média. “A escola de Platão e Aristóteles era uma escola dialógica, de diálogo, de descobertas, do debate para descobrir e criar conhecimento coletivo no contexto de um certo conjunto de problemas. A gente sai dessa e vai para a Idade Média, para uma escola monológica: alguém na sua frente, diz coisas para você ‘codificar’, eventualmente, no seu caderno, para se lembrar do que aconteceu. O professor lê a aula que ele escreveu e você copia a aula para levar para casa. E depois você volta para sala para repetir o que o professor lhe disse”.
A forma de ensino proveniente da Idade Média não gera, para Meira, nenhuma quantidade de conhecimento criada. “Esse processo de transmissão de informação está exaurido e ele foi, em mais de uma forma, corroído pela internet, pela rede. Porque com a rede ela deixou de ter paredes, foi literalmente para o mundo fígital”.
Faz-se necessário reconstruir o processo de aprendizagem. “Primeiro precisa ser estratégico: preciso decidir, a partir de um certo ponto, o que vou aprender e, em qualquer estágio, como eu vou aprender, preciso decidir qual é o processo e qual é o conteúdo, descobrir a estratégia de aprendizado. A segunda coisa que precisa mudar é que a gente precisa, de uma certa forma, voltar para Aristóteles e Platão, a escola precisa ser dialógica em rede. A gente tem que fazer com que as pessoas colaborem para aprender, se comuniquem aprendendo, descubram enquanto aprendam, se transformem em pesquisadores, principalmente agora”.
Acompanhe o encontro na íntegra pelas redes sociais do projeto, no Instagram e Facebook e no canal do Sempre um Papo no Youtube, com acesso pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=pfhl3LksjmM
Link de acesso ao artigo de Silvio Meira: https://silvio.meira.com/silvio/21-anotacoes-sobre-2021/
FRASES:
“Na pandemia não se lançou nenhuma tecnologia nova”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“O mercado de trabalho passou a ser o mundo”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“Em menos de um ano, a gente tinha vacinas para um vírus que a gente só viu coisa parecida com ele, quatro ou cinco vezes no passado recente. Isso é um feito inimaginável de inovação nessa escala”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“Eu acho que o Brasil tem um tipo de flexibilidade diferente do resto do mundo”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“Nós, em um ano, vamos chegar a praticamente 50% de pagamentos pelo PIX, se o ritmo de uso for o que nós estamos vendo, por múltiplas razões, inclusive o caos”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“Houve na pandemia um aumento do ataque digital”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“Ao informatizar as pessoas, cria uma liberdade para as empresas onde, de repente, criar um novo negócio digital, não depende de eu ter um prédio, colocar computadores dentro e assim por diante”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“Um negócio que durava anos, agora dura horas”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“Toda boa empresa é uma boa escola”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“Eu tenho que estar em um trabalho quando meu trabalho é quase mais aprender do que executar, porque se eu não tiver fazendo isso, eu estou destruindo as minhas possibilidades futuras de carreira”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“As coisas fundamentais que uma pessoa tem que aprender para fazer uma carreira de sucesso no futuro é aprender a aprender. A coisa dois é aprender a aprender colaborativamente. A coisa três é aprender a aprender colaborativamente em contexto”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“Matemática, línguas e programação, se você souber essas três coisas você é um cientista”. – Silvio Meira, 15/04/2021
“Tem uma mudança no sistema educacional que a gente precisa ter em escala e, no caso do Brasil, isso é absolutamente crítico, a gente precisa sair de graduações ao redor de currículos para a construção de competências e habilidade na prática”. – Silvio Meira, 15/04/2021
(*) – Estagiária sob supervisão de Jozane Faleiro