30 de maio de 2021
Por Marina Vidal (*)
O Sempre Um Papo segue com a programação de 2021, ano que comemora 35 anos de realização ininterrupta, realizando uma série de encontros com respeitados autores da atualidade. No dia 26 de maio, a convidada foi a escritora, jornalista e especialista em Midiaeducação Silvana Gontijo que falou sobre a sua mais recente inovação para a educação “Cidades, Salvem Seus Rios!”, novo programa da Instituição Planetapontocom, da qual é diretora, voltado para as escolas das redes públicas municipais. A conversa foi mediada por Afonso Borges e contou com intérprete de Libras, sendo transmitido pelo Youtube, Facebook e Instagram do Sempre Um Papo. Esta foi mais uma edição do projeto que está acontecendo de forma virtual, devido à pandemia do Covid-19.
Silvana Gontijo conta que, no processo de elaboração do livro “A Voz Do Povo: O IBOPE Do Brasil” realizou um profundo estudo da comunicação e, com isso, descobriu que o grande canal de voz do povo brasileiro sempre foi a cultura. “Foi por meio dela que o povo brasileiro foi ouvido, desde o samba, desde de o teatro até chegar nas redes sociais, mais recentemente, quando a gente adquire o protagonismo de falar com a sua própria voz, da sua própria forma. E esse foi um conhecimento antropológico muito interessante porque me deu uma visão dos impactos da comunicação na nossa vida, na nossa interação individual, na nossa socialização, na nossa produção de conhecimento e do quanto a gente é impactado pelas mídias e pelos meios”.
Para a escritora, a comunicação, a cultura e a educação são indissociáveis, entretanto, nossa sociedade enxerga esses três ramos como âmbitos separados. “Somos seres de comunicação e linguagem, portanto, se expressar culturalmente é se comunicar, portanto, educar é comunicar. A escola é, necessariamente, um ambiente de comunicação. Se ela não se apropriar da comunicação, ela vai se transformar no que eu chamo de um programa em crise de audiência”.
As escolas, segundo Silvana, acabam perdendo em reter a atenção dos alunos por não se apropriarem da hipertextualidade, de multiplataformas e de ferramentas tecnológicas no processo de aprendizagem. “Uma das primeiras coisas que a gente ensina no Planetapontocom para o professor é ouvir, porque eles não sabem ouvir. Então, ao ouvir, ele começa trazer para dentro do formato, da metodologia dele, os desejos e atrações daquela criança/jovem”.
A diretora do Planetapontocom deu exemplo de um jogo muito utilizado pela instituição que, por meio dele, as crianças, não só aprendem múltiplas matérias como artes, lógica, matemática e português, mas compreendem como esses conteúdos serão úteis em suas vidas. “Não tem nada mais engajador do que uma criança, um jovem se ver como protagonista em um processo de transformação social”.
Com base em pesquisas, Gontijo e a equipe de voluntários do Planetapontocom descobriu que a maneira de capturar a atenção dos estudantes era delegar aos jovens uma responsabilidade, um desafio. “O ‘Movimento Carioca, o Rio do Rio’, que limpou o rio Carioca, curso d’água que estava quase se esgotando, desafiou as crianças a ir nos rios e identificar os problemas que o rio tinha”. Essa proposta envolve a metodologia PBL (Problem Based Learning), Apredizado Baseado em Problema. “Quando você estuda um rio, estuda a história dele, a geografia do território, aprende sobre o bioma, aprende ciências da natureza, escreve sobre o que está acontecendo. E os meninos começam a entender que eles são parte de um processo de transformação social no momento em que eles, com esse conhecimento, começam a exigir a mudança daquela condição do rio”, disse Silvana.
A equipe da Planetapontocom realizou uma pesquisa via formulário com 3 mil professores e descobriu que as duas causas que motivavam os alunos eram a ambiental e a que nomearam de “Convivência Harmônica Entre Os Diferentes”. “Ao mesmo tempo, foram pesquisados os nós de ensino-aprendizagem. Mapeamos todos os nós de ensino-aprendizagem por disciplina, por ano e por bimestre do currículo brasileiro. Com essas informações, a gente junta em atividades específicas, o que chamamos de desatando os nós”, informou Silvana. Hoje, a metodologia inclui a organização do currículo educacional de forma interdisciplinar. “Fizemos um planejamento anual integrando as principais disciplinas em projetos de solução de problemas do rio”, constatou.
Acompanhe o encontro na íntegra pelas redes sociais do projeto, no Instagram e Facebook e no canal do Sempre um Papo no Youtube, com acesso pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=my9OpSFTgpw
FRASES:
“Me intrigava porque a gente via a comunicação separada da cultura e a educação”. – Silvana Gontijo.
“Educar é comunicar”. – Silvana Gontijo.
“O livro ‘A Voz Do Povo’ foi essa viagem que me levou a esse profundo estudo da comunicação”. – Silvana Gontijo.
“O livro ‘A Voz Do Povo’ é exatamente uma visão antropológica dos impactos da comunicação dos indivíduos na sociedade, desde a pré-história até os dias de hoje”. – Silvana Gontijo.
“Um desafio que encontrei foi pesquisar a comunicação na pré-história sendo que nenhum dos nossos arqueólogos tinham estudado dessa maneira”. – Silvana Gontijo.
“Diferentemente do que a gente pensa que a nossa polaridade cultural é fruto da miscigenação e da multiplicidade cultural brasileira, ela já existia na nossa pré-história. No meu livro identifiquei oito narrativas e campos de expressão da pré-história completamente diferentes”. – Silvana Gontijo.
“Não existe uma cidade na história da humanidade que não tenha sido construída entorno de um recurso hídrico, quer que seja. A gente esqueceu disso. O processo civilizatório e urbanização foram transformando o rio em um lugar onde a gente jogava o esgoto, jogava os dejetos”. – Silvana Gontijo.
(*) – Estagiária sob supervisão de Jozane Faleiro