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No Sempre Um Papo, Hugo Monteiro Ferreira lança livro sobre o adoecimento de crianças e jovens da “geração do quarto”

12 de abril de 2022

Por Laura Rossetti

O Sempre Um Papo recebeu virtualmente, no dia 7 de abril de 2022, o escritor e terapeuta Hugo Monteiro Ferreira. O motivo da conversa, que aconteceu no Dia Nacional do Combate ao Bullying e à Violência na Escola, foi o lançamento do livro “A Geração do Quarto: Quando Crianças e Adolescentes Nos Ensinam a Amar” (Editora Record, 2022). A gravação completa do bate-papo, que contou com tradução simultânea em Libras, está disponível no canal do YouTube e Facebook do projeto.

Vítima de bullying na infância, Hugo Monteiro explica que sempre se preocupou com o bem-estar de crianças e adolescentes. “Eu acho que há em mim uma espécie de ‘alma’ que busca não permitir que outras crianças passem pelo que eu passei”, afirma. Sua experiência pessoal como alvo de violências na escola, aliada aos anos em que ele passou lecionando para adolescentes, foi o que criou seu interesse em ser pesquisador na área.

Hugo conta que, enquanto professor de jovens, ouviu muitos pais e mães de estudantes reclamarem que seus filhos passavam tempo em excesso dentro dos próprios quartos. “A pergunta que motivou minha pesquisa foi ‘Por que ficar tão isolado e não manter uma interlocução (com a família)?’ (…) E esse grupo, além de permanecer no quarto, demonstrava muita tristeza. Então, eu percebia que aquilo não corria bem e eu queria saber, queria ouvir, tentar compreender e proteger esses jovens”, diz.

O livro “A Geração do Quarto: Quando Crianças e Adolescentes Nos Ensinam a Amar” é o resultado de todo esse trabalho de pesquisa. “Eu escolhi cinco capitais brasileiras (três nordestinas e duas no Sudeste) e pedi ajuda às escolas para aplicar um questionário feito com a finalidade de entender o que acontecia com essa faixa etária de pessoas entre 11 e 18 anos”, conta Hugo. No total, 3.115 meninos e meninas responderam ao questionário – deste grupo, 238 se enquadram na “geração do quarto”. “Eu encontrei respostas estarrecedoras. Todas confirmavam aquela ideia de que de fato havia um grupo que ficava dentro do quarto e passava por sofrimento psíquico”, afirma.

De acordo com o autor, as pessoas enquadradas na “geração do quarto” possuem as seguintes características em comum: comportamento autodestrutivo, autolesão sem intenção suicida, ideação suicida ou tentativa de suicídio, sintomas relacionados a psicopatologias, transtornos obsessivos compulsivos, transtornos alimentares – como anorexia e bulimia – transtorno de ansiedade geral, depressão, síndrome do pânico e distúrbio do pânico. “É um grupo que não está bem emocionalmente e, ao mesmo tempo que não se comunica face a face com a família; se comunica por meio das redes sociais digitais”, aponta.

Ainda segundo Hugo, os resultados obtidos em sua pesquisa mostram que a ”geração do quarto” não faz parte apenas da realidade das crianças e adolescentes brasileiros. “Estudando, descobri que em outros lugares do mundo acontece o mesmo fenômeno, mas com nomes diferentes. É possível encontrar esse fenômeno na Itália, no Japão, em Portugal, entre outros”, exemplifica.

O autor também observou em seus estudos que a sociedade está despreparada para lidar com o adoecimento dos jovens e crianças. “Nós deixamos as emoções de lado e construímos sociedades muito voltadas para o que chamamos de ‘cognição’, ou seja, sociedades excessivamente racionalistas. Isso nos levou a um campo de negligência com as emoções”, explica Hugo. Com isso, os dois principais agentes que deveriam ajudar os jovens e crianças doentes –  a família e a escola -, encontram-se impotentes diante da situação. “Há questões interpessoais que precisam ser revisitadas. As emoções precisam ser discutidas”, argumenta o autor.

Frases

“As duas grandes instituições do projeto civilizatório moderno (escola e família) são colocadas em cheque quando você observa essa situação de adoecimento emocional de crianças e adolescentes”. – Hugo Monteiro Ferreira

“Os pais não cuidaram das emoções dos filhos porque as emoções deles também não foram cuidadas”. – Hugo Monteiro Ferreira

“Há famílias adoecidas e escolas com dificuldades para enfrentar esse adoecimento”. – Hugo Monteiro Ferreira

“Eu acho que a geração do quarto é efetivamente produzida dentro da família. A família, me parece, é o organismo social mais importante para a gente enfrentar as dificuldades enfrentadas pela geração do quarto”. – Hugo Monteiro Ferreira

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